sábado, 21 de março de 2009

linda flor
flor ave
não me esmaga
não me atola
não me deixa

pois tu
tudo
toda em beleza
horizonte
de renascenças
se erguendo
pra beijar as estrelas

arco-lírio

pássaro me embola na renda de teu canto me faz noiva da terra


tempo estacado em compasso


nos mares do norte as focas cantam à aurora boreal


os corsários na água violenta cenhos franzidos lenços rubros e a língua um pouco de fora esticando os cordames floridos de ilha a ilha


peregrinos arrastam os pés no deserto e o sol nasce diminuto na corola de uma flor solitária


na brancura irrompe o escaravelho com a bandeira rubra nas antenas e o vento escreve teu nome no ar colírio
o sol cresce a cada broto do trinado do pássaro

sexta-feira, 20 de março de 2009

dingo

aos poucos aproxima-se do sentido dos cães
que montam um teatro solene de respeito na rua adormecida
os cachorros sabem de tudo em seu silêncio
os cachorros que param para ouvir
até mesmo o mar distante rodopia em seus ouvidos
e é por isso que muitos tem olhos tristes e nostálgicos
no espaço entre um jogo e uma soneca

e é por esses detalhes que a vida vale a pena
e como já dizia a bruxa um dia
nada se resolve de supetão
por isso meu amigo vacinado
presta
atenção
ao cão.

marinheiro

pavio curto
velas tensas
vai o ogro
singrando a solidão
algas nas botas
nada nas mãos

rochoso

vendo de perto
esse corpo
é um material rochoso
que sofre
e sonha tentáculos
de metal pesado
como se o mundo fosse seu

segunda-feira, 16 de março de 2009

café da manhã com espadas

bom dia
chagas não sanadas
café da manhã
com espadas
memória
lembranças
& um caminho difuso
jogado aos pés
faces & retalhos de tempo
arena
a inocência dos leões parte meu coração
enquanto retiro os cacos de vidro de minha pele

bom dia
& adeus à auto-destruição
meninos & meninas
lutando contra a grande mão fantasma
dentro de seus limites
que às vezes esmagam
diafanamente pesados
através das horas
café da manhã com espadas
almoço com espadas
café da tarde com espadas
janta com espadas
engolindo espadas
vomitando espadas
pobres
meninos & meninas
da aurora ao crepúsculo
livrai-vos
do que não vos pertence
os caranguejos carnívoros que vos cobrem não são imprescindíveis


bom dia
aos cães feridos pelo acaso
solenes a suportar a dor
no meio do carnaval
na contramão do vento
carregando profundos silêncios
onde a miséria joga cartas

todo boanoite será um beijo
e uma flor

domingo, 8 de março de 2009

um copo d'água.

silêncio.

pra não doer.
há calma
na conjunção
das folhas
com o sol

terça-feira, 3 de março de 2009

uma voz um pouco trêmula
vinda de algum lugar das profundezas do sonho

"pensa em mim
me ajude
é tão solitário aqui
ora por mim"


arrepio em minha espinha

pela palpabilidade da voz

orei com fé.