sexta-feira, 8 de maio de 2009

bubblebye

lá vai a borboleta
com toda a leveza
e todo o lado flor
de sua natureza
eu abano de longe
(também feri sua asinha)
rangendo os dentes
(uma lágrima incandescente)
e vou pra montanha
pra um dia
aprender a ser gente.

terça-feira, 28 de abril de 2009

o corpo humano
barro fervilhante
eletrizado
pelas tempestades cósmicas
& pela vibração
das asas da mosca
labirinto estupendo
tocha ofídea
aquário de símbolos para todos os gostos abissais ou rasos savanas conchas aguilhões
zoo ilógico mas concatenado nas orlas do absurdo
sempre
em todo lugar
templo

sábado, 25 de abril de 2009

que sejam silenciosas as chamas que ardem
que beijem com frescor de orvalho
para despertar os adormecidos
sob as folhas do outono

a semente desperta da terra ao olho do sol
de braços abertos a cria gira no compasso do prisma
carícia do cacho de vento na terra úmida
e o poema com o relevo deixado pela ponta de teus dedos
arde desde o fundo da solidão

terça-feira, 21 de abril de 2009

múltiplas escolhas
e apenas uma
ser
do jeito possível
que fomos moldados
no espinho das horas
nas cicatrizes da história

(e o véu da calúnia
cobre a petúnia
quando soam os sinos
da igreja em ruínas
e no lago entre as carpas que choram
leio a condenação
no peito do prisioneiro
onde antigamente
se aninhava seu coração)

o tempo descascado pelos anjos-marinheiros
saberá salivar sua justiça
mas jamais alcançará
as asinhas

de teu calcanhar

quinta-feira, 16 de abril de 2009

o outono chega
com estandartes de folhas secas em remoinhos
bailarinas farfalhantes flamejando
no carinho alaranjado do vento

destecendo as fímbrias de um minúsculo funeral
perninhas de vogais e consoantes fingidas
sentado na proa deste barco absurdo
de imensas hélices costuradas ao ouro do timão
singro o dia farpado o dia esburacado de silêncios

sábado, 21 de março de 2009

linda flor
flor ave
não me esmaga
não me atola
não me deixa

pois tu
tudo
toda em beleza
horizonte
de renascenças
se erguendo
pra beijar as estrelas

arco-lírio

pássaro me embola na renda de teu canto me faz noiva da terra


tempo estacado em compasso


nos mares do norte as focas cantam à aurora boreal


os corsários na água violenta cenhos franzidos lenços rubros e a língua um pouco de fora esticando os cordames floridos de ilha a ilha


peregrinos arrastam os pés no deserto e o sol nasce diminuto na corola de uma flor solitária


na brancura irrompe o escaravelho com a bandeira rubra nas antenas e o vento escreve teu nome no ar colírio
o sol cresce a cada broto do trinado do pássaro

sexta-feira, 20 de março de 2009

dingo

aos poucos aproxima-se do sentido dos cães
que montam um teatro solene de respeito na rua adormecida
os cachorros sabem de tudo em seu silêncio
os cachorros que param para ouvir
até mesmo o mar distante rodopia em seus ouvidos
e é por isso que muitos tem olhos tristes e nostálgicos
no espaço entre um jogo e uma soneca

e é por esses detalhes que a vida vale a pena
e como já dizia a bruxa um dia
nada se resolve de supetão
por isso meu amigo vacinado
presta
atenção
ao cão.

marinheiro

pavio curto
velas tensas
vai o ogro
singrando a solidão
algas nas botas
nada nas mãos

rochoso

vendo de perto
esse corpo
é um material rochoso
que sofre
e sonha tentáculos
de metal pesado
como se o mundo fosse seu

segunda-feira, 16 de março de 2009

café da manhã com espadas

bom dia
chagas não sanadas
café da manhã
com espadas
memória
lembranças
& um caminho difuso
jogado aos pés
faces & retalhos de tempo
arena
a inocência dos leões parte meu coração
enquanto retiro os cacos de vidro de minha pele

bom dia
& adeus à auto-destruição
meninos & meninas
lutando contra a grande mão fantasma
dentro de seus limites
que às vezes esmagam
diafanamente pesados
através das horas
café da manhã com espadas
almoço com espadas
café da tarde com espadas
janta com espadas
engolindo espadas
vomitando espadas
pobres
meninos & meninas
da aurora ao crepúsculo
livrai-vos
do que não vos pertence
os caranguejos carnívoros que vos cobrem não são imprescindíveis


bom dia
aos cães feridos pelo acaso
solenes a suportar a dor
no meio do carnaval
na contramão do vento
carregando profundos silêncios
onde a miséria joga cartas

todo boanoite será um beijo
e uma flor

domingo, 8 de março de 2009

um copo d'água.

silêncio.

pra não doer.
há calma
na conjunção
das folhas
com o sol

terça-feira, 3 de março de 2009

uma voz um pouco trêmula
vinda de algum lugar das profundezas do sonho

"pensa em mim
me ajude
é tão solitário aqui
ora por mim"


arrepio em minha espinha

pela palpabilidade da voz

orei com fé.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

pra se aprender nu
atado ao rochedo
desfiando um rosário de medos
me pergunto quanto tempo
pra acostumar
pra compreender
qaunta dor e quanto erro

mas esse tempo acabou
não vou me suicidar
mas vou cortar os ramos velhos
pra surgirem brotos
absurdos
a vida não é linha mas poliedro
e
meu amor
como é necessário silêncio
quanta paciência se precisa
quanto perdemos no caminho
e nada se perde pra sempre


meu Amor
tu me ensinou
no espelho da dor
os jardins
de meus limites
não os quero mais incendiados
pela lava da ânsia
não quero gerar mais mortos na bolha do sono

e ainda que não estejas mais aqui
esse é meu credo
cacho de tua beleza
sobre meus passos.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

se assim quiseres

com o coração e o ventre em frangalhos
venho aqui fazer a promessa
de ser somente de tua corola
de abandonar as diminutas agulhas da morte
de jamais erguer gaiolas ao teu giro solar
de lavar teus pés toda noite
de tecer lendas russas em teus cachos adormecidos
de te pintar com meu sangue na ardósia vegetal

erva-baleeira

só tu mesmo
para fazer surgir do nada
a oferenda da erva
que há tanto tempo o povo buscava
só tu só tu mesma
fera solene e sagrada
me ajoelho
só tu só tu quero adorar
só em ti posso repousar.

salvia sclarea

este perfume hoje
é um véu orvalhado de lágrimas
separando nossas mãos parcas
esse perfume hoje
é um oceano de ondas crispadas
com caninos de espuma
uivando ao céu fechado
esse perfume
que ontem era escada
hoje estagna
coagula em chaga
no meu peito


(e aqui sentado vendo a águia partir
como pandorga desatada
me pergunto se um dia vai voltar
e retirar com seu bico de luz
a pedra que engasga minha garganta)

flor do deserto

o modo como me falava
pensei que me abandonava


minha fome se retorceu
em torno do caduceu


agora a flor do deserto
parece terra arrasada


& a chuva que não vem são lágrimas
choradas às avessas pela terra

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

seara

saúdo o dia
o sangue no crivo
a pérola no mar
evito o conflito

a escuridão ascende
o corpo é fumaça
minha cama em chamas
estende suas velas

em uma revoada
de sorridentes
caravelas
arruinadas

eu sorrio

saúdo o dia
a água na água
o amor rente ao chão

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Tratamentos

"Tomar salsaparrilha para o sangue"
Jorge de Lima



A seiva do silêncio amplia o olhar
Quando não há lugar para repousar
E as nuvens carregam lágrimas químicas
De decaídos homens insatisfeitos

Não quero te exigir nada
Mas é hora de limpar teu sangue
(Teu sangue único
É teu sangue metafísico)
Antes que se acumulem os Rastejantes
Para sugar o que é só teu
Guarnece tuas orelhas com arcoíris
Inscreve nomes sagrados em teu peito
O tempo não é linha o tempo é círculo
Mas a crosta que palavras ocas lhe impuseram
Acabam por sufocar

Tomar o beijo das ervas para os sonhos
Tomar a ti mesmo em teus braços
Portar um sorriso no estandarte
Escancarar imensas asas absurdas
No espaço mínimo



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

posse

a mais árvore
a mais relâmpago
a mais horizonte
a mais sagrada
a mais súbita
a mais cristal
a mais elemental
a mais mar
a mais sol
a mais fruto
a mais saudade
a mais sorriso
a mais jardim

aquela que caminha rente à espuma
e que os peixes vem cortejar
para entrar nesta dança
deves abandonar teu corpo antigo
ainda é tempo meu amigo
de compreender o amor verdadeiro
não é o lamento que abre portas
mas a coragem de ser o que se é
não é o vinho que abre o dia
mas a esfera perfeita das uvas no pé
sem subterfúgios nem máscaras
é bom saber que existe essa beleza
que não me pertence mas me ilumina
a posse se esfarela na pele mascava
da menina

a mais natureza
coroada de arcoíris
me ensinou (e após mil anos compreendi)
a calma que as águas necessitam
para ser apenas
plenas


para a fernanda, a mais linda, flor raríssima no caminho do ogro.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

peixe-cachorro-escorpião



(subverta mente minha
comerciais de tv
onde teu ser não se vê.)

pois então
na emulação da Redenção
um estranho minizoo
com aquários
de insetos gigantescos
e o peixe-escorpião
(fui correndo chamar meu irmão -
mas o peixe não morreu
como o texugo do sonho de infância.)
o tamanho do gafanhoto
a deselegância da barata
é confortador
ver insetos gigantes sem asas

mas então
num vai e vem e gente de gente querida
buscando isso aqui aquilo acolá
pra matar a sede
virou cachorro
o peixe-escorpião
tímido e brincalhão
entre os pilares do parque
ele vem correndo
sorriso de cachorro na cara
abanando a cauda rugosa
colada ao corpo vermelho

e foi então
o peixe-cachorro-escorpião
se mostrou Maracatu
sua cabeça o estandarte
sua cauda distribuindo círculos
(demorei um pouco a aprender.
as rodas você dá pro povo.
a cabeça do povo
é o centro do sol.
esse é nosso ritual.)
percorrendo corredores infindos

então ai então

(e teve gente querida
e vai-e-vém de novelos.
teve vontade de revê-los,
vocês todos
meus amigos
com poeira de estrela nos cabelos.)

.


pra Dadá e pra Pamela.

sonho triste

mais um sonho triste
quase repetido
é que vou lançando ao mar
os pedaços da memória
pra ver se no dia carrego um sorriso

mas é tão triste e amargo
não ter sonhos bons com a amiga
num ela se vai
noutro ela não vem
mais outro e me ignora
no quarto me põe pra fora

havia uma ferida no peito
e uma ferida no umbigo
cobri tudo com panos quentes
- será que o sonho
se tornou inimigo
ou só me foi proibido
sonhar contigo?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

mickey muso I



ok
fiquei a noite inteira ouvindo teu lamento
espantalho
e não avançaste um centímetro
e tuas sílabas eram bolhas de petróleo
no espaço turvo
do bar que roías
é tão comum
perder-se entre as gavetas
quando se procura fora de si
o sentido
da migalha

mas hoje não haverá consolo
nem espera convicta
nem laurel
espantalho
pois tua pressa atropela
a mão aberta
enquanto anzóis a esmo fundem-se na lava
de um dia que não começa

domingo, 18 de janeiro de 2009

dead tv


Tv morta
Memoria viva

sábado, 17 de janeiro de 2009

abandono nada

não vou cair
nos jogos
de abandono
não abandono nada
abraço tudo em meu peito de urso subnutrido
até mesmo
o cocô do cavalo do bandido

se eu incendiei meu tricô
essas coisas acontecem
se a rede rasgou no puxar
feliz do peixão que fugiu
ferliz do mar